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Extrativismo de Coleta da Castanha-do-Brasil na Comunidade Quilombola de Cachoeira Porteira.

Atualizado: 23 de jun. de 2023

Prática Sustentável de Baixo Impacto Ambiental e Grande Relevância Econômica Local.


Por Jheiffison Clemente Souza


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A importância da Castanha-do-Brasil na economia da Comunidade Quilombola de Cachoeira Porteira


A Castanha-do-Brasil é uma árvore nativa da região Amazônica, pertencente ao gênero Bertholletia e espécie Excelsea a castanheira é uma árvore de extrema importância na atividade extrativista na Comunidade de Cachoeira Porteira, Oriximiná-Pará, uma vez que, uma grande parcela da renda familiar anual de boa parte dos moradores é decorrente dessa prática sustentável.


Árvore da Castanha-do-Brasil


Conhecendo o Fruto da Castanheira: Características e Importância na Comunidade de Cachoeira Porteira

A árvore da castanheira dá um fruto conhecido como ouriço, de forma esférica levemente achatada, com casca lenhosa muito dura com cerca de 20 cm de diâmetro, que contém em seu interior em média de 12 a 24 sementes, as quais envolvem as amêndoas (parte comestível do fruto). Além disso, a sua superfície apresenta coloração castanho-escuro com uma variação de peso de 200 g e 1,5 kg, com média de 750 g.


Fruto e amêndoas da castanha-do-Brasil

Fonte: Elo7


10.2. 10.1. Sr. "Pretinho", mostrando o corte do ouriço da castanha feito em pé, castanha do Traval, Rio Trombetas. (Detalhe segurando o ouriço).

Castanheiro mostrando o corte do ouriço da castanha-do-Brasil

Período da Safra da Castanha-do-Brasil na Comunidade de Cachoeira Porteira


O período da safra é conhecido localmente como o "tempo da castanha". Todos os anos sua coleta é realizada nos meses de fevereiro e estende-se até maio (pico da safra), a coleta é realizada em castanhais isolados da comunidade designados localmente como "pontas de castanha" podendo haver mais de uma ponta em um mesmo castanhal, aonde os coletores permanecem acampados por longos períodos, dependendo da necessidade de cada um. Além da coleta da castanha-do-Brasil, os coletores também utilizam outros produtos oriundos das matas como madeira para a construção de moradia, utensílios domésticos, caça, pesca, atividade agrícola, alimentação e saúde, entre os principais, destaca-se: os cipós as palmeiras (ubim, inajá), além dos óleos (copaíba, andiroba, cumaru e piquiá), frutas, como bacaba, açaí e resinas, a exemplo do breu, são bastante utilizados pelos coletores.


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A Transmissão do Conhecimento Tradicional na Coleta de Castanha na Comunidade de Cachoeira Porteira


Não existe um ensinamento formal sobre a prática tradicional de coleta e corte da castanha. Na comunidade Cachoeira Porteira este ensino é passado de pai para filho, ou seja, se baseia no contato geracional - os filhos acompanham os pais, tios, irmãos ou outros membros durante a safra. Esse sistema de legado de conhecimento ocorre de forma oral ou por imitação. Essa prática extrativista envolve uma seria de técnicas que perpassam a fabricação de instrumentos de trabalho e técnicas corporais, além do conhecimento tradicional ligado a biodiversidade.


Fábio, Galego, Pacu, Nazareno, Marcos, Max, Adriano e Wiille, acampamento de castanheiros no castanhal do Pirarara, Rio Trombetas.

Castanheiros de Cachoeira Porteira

A produção de castanha na região de Cachoeira Porteira: Fatores que influenciam na colheita"


Na região de Cachoeira Porteira, assim como em outras regiões produtoras da Amazônia, a produção dos castanhais varia em função de fatores naturais, enquanto que a intensidade de colheita varia em função do preço de mercado. Dessa maneira o mercado de castanha é um tanto instável quando analisada a produção e colheita entre diferentes anos. Em anos com muita castanha e pouca demanda ou baixo preço, sobra castanha no chão da floresta. Nos anos de alta demanda, os preços sobem e a maior parte da castanha produzida nos castanhais é coletada e vendida por ótimos preços em cidades relativamente próximas como Oriximiná e Óbidos.


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Sementes da castanha-do-Brasil

Processo de Coleta e Comercialização da Castanha na Região de Cachoeira Porteira


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Para coletar e comercializar uma caixa de castanha, o castanheiro necessita localizar e abrir cerca de 120-140 ouriços e transportar o correspondente a cerca de 25-30 kg de sementes em seu paneiro durante sua jornada de trabalho na floresta. Os instrumentos de trabalho do coletor são o paneiro, mantido junto às costas, botas, o facão e, raramente, o capacete. O trabalho nos castanhais durante o período de queda dos frutos é perigoso, pois existe a possibilidade de um ouriço vir a cair sobre a cabeça ou ombros do coletor.


Castanheiro segurando um ouriço de castanha-do-Pará


Condições precárias de trabalho na colheita de castanha na comunidade de Cachoeira Porteira, mas importante fonte de renda e cultura


No geral, as condições de trabalho são precárias: indumentárias deficientes, meio ambiente inóspito durante a estação chuvosa, trabalho intensivo e baixa remuneração ou aviamento. No entanto, a grande maioria das pessoas dependem dessa atividade extrativista. Porém, com o avanço do turismo na região outras atividade surgiram (guias de pesca, lavadeiras, cozinheiras, ajudantes e apoios em geral além de beneficiar donos de estabelecimentos comerciais e transportes terrestre e fluvial) todas essas atividades e outras passaram a contribuir com a renda familiar dos moradores de Cachoeira Porteira. Embora, a atividade extrativista continua sendo realizada, porque além de ser uma prática de necessidade também já se tornou algo cultural.


As imagens exibidas neste ensaio foram produzidas durante o trabalho de campo na comunidade quilombola de Cachoeira Porteira, em 2012, para a elaboração do relatório antropológico com vistas à titulação do território quilombola, de acordo com os termos do Contrato de Prestação de Serviços Nº05/2012-IDESP, a partir do Termo de Cooperação Técnica e Financeira nº 001/2012, de 08/02/2012, celebrado entre a Secretaria de Estado de Meio Ambiente (SEMA), Instituto de Terras do Pará (ITERPA) e o Instituto de Desenvolvimento Econômico, Social e Ambiental do Pará (IDESP). Emmanuel de Almeida Farias Júnior é professor do Departamento de Ciências Sociais-DCS e Programa de Pós-Graduação em Cartografia Social e Política na Amazônia-PPGCSPA, Universidade Estadual do Maranhão-UEMA.


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Referências

1. DOS SANTOS, Orquídea Vasconcelos. Estudo das potencialidades da castanha-do-brasil: produtos e subprodutos. Tese (doutorado em Tecnologia Bioquímico-Farmacêutica) - Faculdade de Ciências Farmacêuticas, Tecnologia de Alimentos, Universidade de São Paulo, São Paulo, p. 214. 2012.

2. IBAMA. Plano de Manejo: ResBiológica do Rio Trombetas. Ministério do Meio Ambiente, Brasília, julho de 2004.

3. JÚNIOR, DE A. F. Emmanuel. Amazônia Latitude. Quilombolas de Cachoeira Porteira - territórios conquistados e os megaprojetos. 02 de maio de 2019. Disponível em <https://amazonialatitude.com/2019/05/02/quilomboas-de-cachoeira-porteira-territorios-conquistados-e-mega-projetos/>. Acessado em 03 de março de 2022.


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